Velho do Restelo
Camões serve-se deste episódio para apresentar a opinião de todos os que se revelavam contra a expansão marítima portuguesa. Assim, faz a condenação da ambição de todos os que pela «vã cobiça» ambicionavam chegar ao outro continente pela «glória de mandar» e desejo de «fama», apresentando uma alternativa menos nefasta – expansão no norte de África – sendo uma espécie de mal menor, dado que o homem é caracterizado por uma «mísera sorte» e «estranha condição» de ser incorrigivelmente insatisfeito.
Esta
personagem adquire várias funções. Por um lado representa uma personagem
coletiva e simbólica, na medida em que apresenta a corrente desfavorável à
expansão para o Oriente, sendo mais tolerante relativamente à guerra no norte
de África traduzindo, genericamente, o medo do desconhecido e a hesitação
perante a novidade, assumindo-se como símbolo da resistência social à aventura
e novidade, representando o conservadorismo e a resistência à mudança, fazendo
lembrar o coro trágico, pelas suas reflexões sentenciosas sobre a condição
humana, por outro lado, surge-nos como uma personagem alegórica, já que
representa a voz do bom senso, da fria razão, da prudência e da consciência do
perigo, achando que estas expedições trariam o despovoamento e a ruína do reino
e ainda a desagregação familiar «Dura inquietação d’alma e da vida/Fonte de
desemparos e adultérios/Sagaz consumidora conhecida/De fazendas, de reinos e de
impérios».
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