Os Lusíadas e o
maravilhoso pagão
O maravilhoso pagão tem origem
na antiga Grécia, onde se cria uma religião em que os deuses, embora sendo seres
superiores, têm características muito semelhantes ao homem, na medida em que
também eles amam, sofrem, discutem, descem do Olimpo (sua morada celestial) e
convivem com os homens. As forças da natureza são identificadas com deuses,
sendo estes que as animam, lhes dão vida. A introdução do maravilhoso é uma
característica das epopeias clássicas.
O maravilhoso tem como função
simbólica:
a) alegoria de enaltecimento do grande feito
português (prova disso são as dificuldades que os nautas tiveram que vencer);
b) o destino e os deuses queriam o êxito dos
portugueses (os portugueses estavam predestinados para estas façanhas);
c) o maravilhoso pagão e o maravilhoso cristão
fundem-se para insinuarem esta predestinação dos portugueses.
Entre deuses e homens há uma
espécie de semi-deuses, são aqueles que têm qualidades acima do vulgar e que
são protegidos pelas divindades. Os portugueses assumem n’ Os
Lusíadas o papel de semi-deuses.
Camões vai embelezar Os
Lusíadas rodeando-o de um ambiente maravilhoso. Para isso recorre à
utilização dos deuses pagãos, quer como adjuvantes, quer como oponentes a esta
viagem do povo lusitano. Embora Camões utilize os deuses pagãos, no final da
obra o agradecimento é feito ao Deus cristão, à «Divina Guarda», comprovando
assim a existência dos dois tipos de maravilhoso na epopeia, podendo então
afirmar-se que o maravilhoso n’ Os Lusíadas é misto (maravilhoso pagão e
maravilhoso cristão) e naturalmente o respeito e submissão à censura da
Inquisição que iria dar a permissão, ou não, para a publicação da obra.
O
maravilhoso pagão ou o plano dos deuses é bastante significativo ao longo do
poema, cruzando-se com o plano da viagem dando unidade e dinamismo à ação,
sendo também o processo de dramatizar as ações dos heróis, fazendo reflectir
nelas os próprios conflitos dos deuses.
No
consílio do Olimpo, as deliberações são favoráveis aos portugueses por
intervenção de Vénus, todavia Baco, oponente dos portugueses, consegue convencer
Neptuno, deus dos mares, a deliberar contra os portugueses no consílio dos
mares, o que de facto acontece. No entanto, os portugueses superam esses
desígnios dos deuses ultrapassando esses perigos e chegando gloriosamente à
Índia. É de salientar que os portugueses são ainda recompensados na Ilha dos
Amores sendo, portanto, elevados à categoria de semi-deuses.
Os deuses adjuvantes dos
portugueses são: Júpiter, Vénus e Marte. Vénus surge também como símbolo do
amor e do fado e os oponentes dos portugueses são: Baco.
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