quarta-feira, 28 de março de 2012

Os Lusíadas e o maravilhoso pagão


Os Lusíadas  e o maravilhoso pagão
                  O maravilhoso pagão tem origem na antiga Grécia, onde se cria uma religião em que os deuses, embora sendo seres superiores, têm características muito semelhantes ao homem, na medida em que também eles amam, sofrem, discutem, descem do Olimpo (sua morada celestial) e convivem com os homens. As forças da natureza são identificadas com deuses, sendo estes que as animam, lhes dão vida. A introdução do maravilhoso é uma característica das epopeias clássicas.
                  O maravilhoso tem como função simbólica:
a)     alegoria de enaltecimento do grande feito português (prova disso são as dificuldades que os nautas tiveram que vencer);
b)     o destino e os deuses queriam o êxito dos portugueses (os portugueses estavam predestinados para estas façanhas);
c)      o maravilhoso pagão e o maravilhoso cristão fundem-se para insinuarem esta predestinação dos portugueses.
                  Entre deuses e homens há uma espécie de semi-deuses, são aqueles que têm qualidades acima do vulgar e que são protegidos pelas divindades. Os portugueses assumem n’ Os Lusíadas o papel de semi-deuses.  
Camões vai embelezar Os Lusíadas rodeando-o de um ambiente maravilhoso. Para isso recorre à utilização dos deuses pagãos, quer como adjuvantes, quer como oponentes a esta viagem do povo lusitano. Embora Camões utilize os deuses pagãos, no final da obra o agradecimento é feito ao Deus cristão, à «Divina Guarda», comprovando assim a existência dos dois tipos de maravilhoso na epopeia, podendo então afirmar-se que o maravilhoso n’ Os Lusíadas é misto (maravilhoso pagão e maravilhoso cristão) e naturalmente o respeito e submissão à censura da Inquisição que iria dar a permissão, ou não, para a publicação da obra.
                  O maravilhoso pagão ou o plano dos deuses é bastante significativo ao longo do poema, cruzando-se com o plano da viagem dando unidade e dinamismo à ação, sendo também o processo de dramatizar as ações dos heróis, fazendo reflectir nelas os próprios conflitos dos deuses.
                  No consílio do Olimpo, as deliberações são favoráveis aos portugueses por intervenção de Vénus, todavia Baco, oponente dos portugueses, consegue convencer Neptuno, deus dos mares, a deliberar contra os portugueses no consílio dos mares, o que de facto acontece. No entanto, os portugueses superam esses desígnios dos deuses ultrapassando esses perigos e chegando gloriosamente à Índia. É de salientar que os portugueses são ainda recompensados na Ilha dos Amores sendo, portanto, elevados à categoria de semi-deuses. 
Os deuses adjuvantes dos portugueses são: Júpiter, Vénus e Marte. Vénus surge também como símbolo do amor e do fado e os oponentes dos portugueses são: Baco.

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