quarta-feira, 28 de março de 2012

Perspetiva alquímica e simbólica d’Os Lusíadas



A ideia de alquimia existe desde a Idade Média em que era vista como uma química hermética que procurava principalmente descobrir a pedra filosofal, que transmutaria os metais não nobres em ouro, e a panaceia universal, que curaria todas as doenças. Adquiriu, assim, o sentido de transformação, transmutação e magia.
Há três tipos de Alquimia: externa (dos metais), portanto física; interna (do homem), portanto espiritual; ars magna, simultaneamente transmutação da matéria e metamorfose da alma.
Esta operação simbólica era realizada através da virtude espiritual, assim, segundo os textos védicos, o ouro simbolizava a imortalidade, e é para isso que tende a única transmutação real: a da individualidade humana. Trata-se de atingir o centro do mundo e os estados supra-humanos.
De outro ponto de vista, a alquimia simboliza a própria evolução do homem de um estado onde predomina a matéria para um estado espiritual: transformar em ouro os metais é equivalente a transformar o homem em puro espírito.     
N’Os Lusíadas o caminho mágico, místico e alquímico conduzem à transmutação do ser, já que os portugueses passam de um plano terreno para um estatuto de divindade, atente-se no episódio da "Ilha dos Amores" em que os deuses reconhecem os feitos dos portugueses, permitindo-lhes uma união, casamento cósmico, com as ninfas. Também o episódio do "Adamastor", que possibilita a passagem do Oceano Atlântico para o Índico, simboliza a aquisição de conhecimento exterior e interior, é a superação das capacidades humanas, é a deificação dos homens.
Os portugueses vencem os quatro elementos da natureza: água – mar; fogo – armas de fogo e tempestades; terra – terras conquistadas e ar – ventos das tempestades, atingindo o quinto elemento, o éter, que lhes dá a eternidade. No fundo, estamos perante a transmutação alquímica através do reconhecimento divino relativamente à vitória sobre os quatro elementos da natureza.

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