quarta-feira, 28 de março de 2012

O Futurismo


«Manifesto Futurista» - Filippo Marinetti

1.     – Nós queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia.
2.     – A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3.     – A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, a bofetada e o soco.
4.     – Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu com uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida, com o seu cofre enfeitado por grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel que ruge, que parece correr debaixo de fogo, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5.     – Queremos glorificar o homem que segura o volante, cujo eixo ideal atravessa a Terra, ele também lançado em corrida, no circuito da sua órbita.
6.     – É preciso que o poeta se enriqueça com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7.     – Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para reduzi-las a prostrar-se diante do homem.
8.     – Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que razão nos havemos de acautelar, se queremos arrombar as misteriosas portas do impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos agora no absoluto, pois criámos a velocidade omnipresente.
9.     – Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
10.   – Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todas as espécies, e combater o moralismo, o feminismo e todas as baixezas oportunistas ou utilitárias.
11.   – Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela rebelião; cantaremos as marés multicores ou polifónicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as estações glutonas, devoradoras de serpentes que deitam fumo, as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios retorcidos dos seus fumos, as pontes semelhantes a ginastas gigantes que galgam os rios, balouçando ao sol com um brilho de facas; os aventureiros navios que farejam o horizonte, as locomotivas de peito amplo que atropelam os carris, como enormes cavalos de aço com freios de tubos e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice rasga o vento como uma bandeira e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

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