quinta-feira, 22 de março de 2012

Reflexões do poeta


Canto I, est. 106
  • ­    Fragilidade da vida humana rodeada de perigos quer no mar, “tanta tormenta”, quer em terra, “tanta guerra, tanto engano”;
  • ­   Interrogação retórica sobre a possibilidade de “um bicho tão pequeno” encontrar um porto de abrigo sem atentar contra a ira divina.

Canto V, est. 94­-100
  • ­    Invetiva do poeta contra os seus contemporâneos que desprezam as letras;
  • ­    O poeta sente vergonha pelo facto de a nação portuguesa não ter “[capitães]” letrados, pois quem não sabe o que é arte, também não a sabe apreciar, “Sem vergonha o não digo: que a razão/De algum não ser por versos excelente / É não se ver prezado o verso e rima,/Porque quem não sabe arte, não na estima.”;
  • ­    A ventura fez dos portugueses gente áspera, austera e rude, sendo que poucos ou nenhuns há com “engenho”;
  • ­    Se a nação portuguesa prosseguir no costume da ignorância, não teremos nem homens ilustres nem corajosos;
  • ­    A comparação entre os exemplos da Antiguidade Clássica e os Portugueses serve para acentuar a “pobreza” cultural existente em Portugal;
  • ­    O poeta pretende, com os seus argumentos, alertar as consciências para a necessidade e para a urgência de se alterar o panorama do reino no que respeita à cultura e à instrução dos seus súbditos, sob pena de não haver uma real evolução se isso não acontecer.

 
Canto VI, est. 95­-99
  • ­    O poeta medita sobre o valor da verdadeira glória;
  • ­    O valor da verdadeira glória está no esforço heroico por alcançá-­la;
  • ­    Só através da determinação, do sacrifício e da humildade se atinge a verdadeira glória e não por herança ou por concessão de favores – modelo de virtude renascentista; (est.97 e 98).
  • ­    Crítica àqueles que alcançam a glória sem a merecer;
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Canto VII, est. 2­14

  • ­    Exortação do espírito de cruzada: a viagem à Índia, levada a cabo pelos portugueses, aparece como uma missão de transcendência e uma marca da identidade nacional;
  • ­    Os portugueses são em menor número, mas, pelos seus feitos, podem ser um exemplo a seguir pelos outros povos;
  • ­    Os portugueses ocupam uma pequena parte do mundo, “tão pequena parte sois no mundo”, mas são grandes em coragem e ousadia para lutar pela fé cristã;
  • ­    Referências a outros povos e às suas características, de modo a sobrevalorizar os portugueses:
                      - alemães – têm muitos territórios, mas estão embrenhados em lutas internas; referência às reformas de Lutero; 
                      - ingleses – criaram a igreja anglicana, dividindo a igreja; 
                      - aqueles que se regem pelo “vil” metal (dinheiro); 
                      - italianos – povo cheio de vícios e males dentro do seu próprio território;
  • ­    Critica os povos europeus que não seguem o exemplo lusitano e não são movidos pelo desejo de expansão da fé cristã;
  • ­    Enquanto os outros povos andam “cegos e sedentos/[] de vosso sangue”, os portugueses continuarão a descobrir o mundo e a realizar bons feitos, “E, se mais houvera, lá chegara”.

Canto VII, est.78-­87
  • ­    Intervenção pedagógica;
  • ­    O povo português revela indiferença e insensibilidade face à cultura e literatura, desprezando e não dando valor ao poeta;
  • ­    Perspetiva pessoal do desprezo que lhe é votado;
  • O tomando o seu exemplo, o desprezo e falta de reconhecimento face ao seu esforço, nenhum escritor quererá louvar os feitos dos portugueses;
  • ­    Os portugueses menosprezam a cultura e literatura, o que os poderá levar à decadência;
  • ­    Denúncia aos abusos dos poderosos e às injustiças que atingem o povo.

Canto VIII, est.96­-99
  • ­    O poeta tece considerações sobre o poder corruptor do vil metal/dinheiro;
  • ­    O dinheiro obriga à tomada de determinadas condutas, “Quanto no rico, assi como no pobre,/Pode o vil interesse e sede imiga/Do dinheiro, que a tudo nos obriga.”;
  • ­    Estrofe 97 como exemplo do que se faz a troco do dinheiro; ­   
  •     Pronome demonstrativo “este” (estrofe 98 e 99) como anáfora de “metal luzente e louro” (dinheiro); ­ 
  •     O dinheiro não é sinónimo de virtude.

Canto X, est.145­-148
  • ­    Confessa-­se cansado de “cantar a gente surda e endurecida” que não o sabe apreciar, uma gente “metida / no gosto da cobiça e na rudez / Dhua austera, apagada e vil tristeza”, aliás imagem do Portugal de então, que ele apresenta com alguma mágoa e até sarcasmo e azedume.
  • ­    O poeta exorta D. Sebastião a ser grande e a continuar os feitos grandiosos dos seus antecessores; ­    
  • Estrofe 145
               - o poeta canta para “gente surda e endurecida” – gente incapaz de apreciar o seu canto épico;
               - a pátria não reconhece nem se orgulha dos letrados;

  • ­    O poeta dirige-­se ao rei D. Sebastião, lembrando­-lhe que tem “vassalos excelentes”, que demonstram grande força e coragem, pois enfrentam perigos, obedecem às suas ordens com prontidão e alegria e farão dele sempre um vencedor e não um vencido.

Com base nestas intervenções, Os Lusíadas pode ser visto como uma obra didática, onde se estabelece um modelo de valores que devem ser considerados como uma teoria, que define normas morais a seguir, enfim, como um texto que critica os vícios que assolam a sociedade da época, propondo aos portugueses, contemporâneos de Camões, que corrijam os seus vícios para atingirem um nível superior de humanidade, ou, melhor dizendo, a perfeição.

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