Sonho/Realidade
(evasão, angústia, tédio, frustração)
«…o sonho é muitas vezes, para
Fernando Pessoa, uma compensação para a
realidade amarga e hostil (…). Perante a realidade decepcionante, o sonho aparece como o único caminho; uma
forma de evasão, de esquecimento. (…)
«Porém o sonho, mais do que uma
compensação, aparece por vezes como substituição à própria vida. Incapaz de
aderir ao presente, à realidade que lhe aparece como demasiadamente forte, o
poeta refugia-se no sonho. (…)
«Assim a vida estiola-se na
inactividade, consome-se na inércia de resolver, de decidir, de fazer. (…)
«Aqui e ali, o sonho não aparece
já como uma quimera amada, mas como o projecto falhado, que traz a desilusão.
(…)
«…leva-o à desistência, à
abdicação total de escolher, de decidir, em que se consuma a fuga à vida. (…)
Maria Vitalina Leal
de Matos, A Vivência do Tempo em Fernando Pessoa
«Não sei sentir, não sei pensar,
não sei querer. Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e
desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar.»
«O tédio… Sofrer sem sofrimento,
querer sem vontade, pensar sem raciocínio… É como a possessão por um demónio
negativo, um embruxamento por coisa nenhuma.»
«Cheguei àquele ponto em que o
tédio é uma pessoa, a ficção incarnada do meu convívio comigo.»
Bernardo Soares, Livro
do Desassossego
«Nada sou, nada posso, nada
sigo»
«Quero dormir sossegado, sem
nada que desejar,/Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu.»
«Tudo o que faço ou medito/Fica
sempre na metade./Querendo, quero o infinito./Fazendo, nada é verdade.»
Fernando Pessoa
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