Nostalgia
de um bem perdido/Desagregação do tempo
«A infância é a inconsciência, o
sonho, a felicidade longínqua, uma idade perdida e remota que possivelmente
nunca existiu a não ser como reminiscência»
Isabel Pascoal, Poemas
de Fernando Pessoa
«A infância é a possibilidade do
bem, da unidade, da inconsciência, da verdade e da posse. Nela cessam as
dialécticas impossíveis, a crueza do real presente, as buscas sem saída, os
medos, os mistérios. (…) Nessa infância tudo é longe, impreciso, sem carga
real, como convém às construções do sonho e aspiração da fuga. (…) Ela é, a um
tempo, começo e fim, passado e futuro. Lembra-se como felicidade possuída e
deseja-se como reconstrução a haver. (…)
«…infância é sempre sinónimo de
inconsciência, segurança, pureza, felicidade.»
Alfredo Antunes, Saudade
e Profetismo em Fernando Pessoa
«Com que ânsia tão raiva/Quero
aquele outrora!/E eu era feliz? Não sei:/Fui-o outrora agora»
«E toda aquela infância/Que não
tive me vem,/Numa onda de alegria/Que não foi de ninguém.»
«Se quem fui é enigma,/E quem
serei visão/ Quem sou ao menos sinta/Isto no meu coração»
Fernando Pessoa
«Vivo sempre no presente. O
futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho. Pesa-me um como a possibilidade
de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades.
(…) Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir.
Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. O meu passado é tudo quanto
não consegui ser.»
Bernardo Soares, Livro
do Desassossego
Sem comentários:
Enviar um comentário