Fragmentação
do eu
«Passageiro, viageiro, peregrino através da sua própria alma – é a
imagem de si que o poeta permanentemente nos transmite.
«A alma que quer fixar, que fora
de si, à sua frente, se desdobra como uma +paisagem é, contudo móbil: apenas à
sua passagem o poeta pode assistir. Apenas pode, afinal (como tantas vezes, por
outras palavras, disse) viajar através de si próprio, vendo-se e ouvindo-se,
como «canção de viagem», que se sente ser.
«É o poeta que viaja através da
sua alma-múltipla ou, inversamente, é viajado por ela? Seja como for, tudo é
viagem: paisagem e passagem.»
Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer
«Não sei quem sou, que alma
tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou
variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).»
«Sou múltiplo. Sou um quarto
com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única
realidade que não está em nenhuma e está em todas.»
Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de
Auto-Interpretação
«Não sei quantas almas
tenho./A da momento mudei./Continuamente me estranho.»
«Torno-me eles e não eu.»
«Sou a minha própria paisagem,/Assisto
à minha própria passagem/Diverso, móbil e só.»
Fernando Pessoa
«Continuamente sinto que fui
outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo
com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.»
«Meu
Deus, meu Deus, a quem assisto? Quantos sou? Quem é eu? O que é este intervalo
entre mim e mim?»
«Sou
o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida
fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu
nada também.»
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
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