Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só
se importa em ver de forma objetiva e
natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a
natureza.
Caeiro é o poeta
da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E
porque só existe a realidade, o tempo é
a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os
instantes são a unidade do tempo. Vê o mundo sem necessidade de explicações,
sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso,
crê na “eterna novidade do mundo”.
Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso, aproveita
cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos,
Caeiro dá primazia ao sentido da visão,
mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em
verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo (deambulação), personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a
harmonia pagã e primitiva da Natureza.
É um sensacionista
a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é
reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do
seu olhar volta-se para a contemplação dos objetos originais. Constrói os seus
poemas a partir de matéria não-poética (atitude
antilírica), mas é o poeta da
Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das
sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há
nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
«Alberto Caeiro
parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura
acumulada ao longo dos séculos.»
Aspectos formais:
· Discurso poético de características
oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta):
vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases
interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
·
Discurso em
verso livre, em estilo coloquial e espontâneo (proximidade da linguagem do
falar quotidiano, fluente, simples e natural);
·
Ausência de rima;
·
Pouca subordinação e pronominalização;
·
Frases predominantemente coordenadas, uso de
paralelismos de construção, de comparações simples e expressivas (para
demonstrar a tendência ou a busca da objetividade);
·
Ausência de preocupações estilísticas;
·
Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento, mas
espontâneo;
·
Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras
(dando uma impressão de pobreza lexical): pouca adjetivação, predomínio de
substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais)
ou no gerúndio (sugerindo simultaneidade e o fluir das sensações).
Sem comentários:
Enviar um comentário