segunda-feira, 16 de abril de 2012

Alberto Caeiro - características-chave


Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.
          Para Caeiro, «pensar é estar doente dos olhos». Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que «pensar é não compreender». Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa ortónimo. Canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado.
Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo. Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
Mestre de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos, Caeiro dá primazia ao sentido da visão, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo (deambulação), personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objetos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética (atitude antilírica), mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
 «Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada ao longo dos séculos.»
Aspectos formais:
·      Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
·       Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo (proximidade da linguagem do falar quotidiano,   fluente, simples e natural);
·      Ausência de rima;
·      Pouca subordinação e pronominalização;
·      Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples e expressivas (para demonstrar a tendência ou a busca da objetividade);
·      Ausência de preocupações estilísticas;
·      Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento, mas espontâneo;
·      Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras (dando uma impressão de pobreza lexical): pouca adjetivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (ações ocasionais)   ou no gerúndio (sugerindo simultaneidade e o fluir das sensações).

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