Dor
de Pensar
«A extensão dos seus sentimentos
é constantemente diminuída pela vastidão do seu pensamento. A vida não pode
encontrar em Fernando Pessoa o que a vida requer para ser vivida – completo
abandono aos sentimentos que desperta. Daí a dualidade constante desse homem
que vive e pensa simultaneamente, e que, pensando o que vive, pensa,
precisamente, que a vida só vale a pena ser vivida quando vivida sem
pensamento, uma vez que o pensamento, pecado original de toda a vida, corrompe
a inconsciência inerente à própria felicidade de viver.»
J. G. Simões, Vida o Obra de Fernando
Pessoa
«Fernando Pessoa foi dos que
mais sofreram com o terrível paradoxo. Vocacionado para o exercício exaustivo
de uma inteligência esquadrinhadora (…) experimentou, a par do orgulho de
conhecer afirmando-se contra a voragem, a pena mais frequente de lhe ser
inacessível a felicidade dos que não conhecem. O privilégio de uma
extraordinária lucidez paga-se caro. (…)
«Um
dos mais belos poemas ortónimos, «Ela canta, pobre ceifeira…», inclui a
aspiração à vida instintiva. (…)
«Mas
aqui o poeta reconsidera, quer e não quer; formula a ambição impossível (e o
sabê-la impossível contagia de tristeza o canto da ceifeira) de ser consciente.
(…)
«Como
o pensar esfria o sentir, a alegria perfeita não pertence a este mundo, é só
imaginada. Só os outros são felizes (…).
«Mais
uma vez a lucidez interfere para destruir, e o pensamento de Fernando Pessoa,
aguilhoado pela fome de absoluto, conduz a uma situação dilemática
intransponível.»
Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e
Unidade em Fernando Pessoa
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