Gomes
Freire de Andrade («que
está sempre presente embora nunca apareça») é uma personagem virtual, uma vez
que nunca aparece em cena, mas está sempre presente, sendo, aliás, o motivo de
todo o enredo. Desta forma, é tido como um herói e representa a integridade e a
recusa à subserviência. O General é morto porque «é lúcido, é inteligente, é
idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é,
senhores, um estrangeirado» (p.71), assim «a simples existência de certos
homens é já um crime» (p.95).
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 23 Manuel - «Estrangeirado ou
não, é capaz de se bater com os senhores do Rossio…»
p. 32 Vicente - «… a ninguém tem
o povo mais amor do que ao primo de V.Excelência. Soldado distinto, súbdito
fiel… em ninguém põe o povo mais esperança do que no general…»
p. 71 D. Miguel - «…aí tendes o
chefe da revolta. Notai que lhe não falta nada: é lúcido, é inteligente, é
idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é,
senhores, um estrangeirado…»
p.74 D. Miguel - «Morte ao
traidor Gomes Freire de Andrade!»
p. 79 Manuel - «Esta madrugada
prenderam Gomes Freire… Levaram-no, escoltado, para S. Julião da Barra. Já de
lá não sai vivo!»
p. 112/113 Matilde - «O meu
homem! O meu homem, que nunca lutou com gente desta… Metido numa masmorra, ele,
que se bateu sempre em campo aberto…»
p. 117 Sousa Falcão - «Lembre-se
que são primos, e antigos camaradas de armas… Um é franco aberto leal. O outro
é a personificação de mediocridade consciente e rancorosa. Gomes Freire
perdoaria a D. Miguel Forjaz, mas D. Miguel Forjaz vai enforcar Gomes Freire.»
p. 125 Matilde - «O vosso credor
Gomes Freire d’Andrade está numa masmorra por amor da justiça»
p. 126 Frei Diogo - «Se há
santos, Gomes Freire é um deles…»
p. 127 Frei Diogo - «Foi um
privilégio que Deus lhe deu – o de viver ao lado dum homem como o general Gomes
Freire.»
Matilde («a companheira de todas as horas»)
autocaracteriza-se nas pp. 91 e 92. Amante, esposa e companheira de Gomes
Freire, é uma mulher de caráter forte, vibrante, corajosa, recusa a
hipocrisia, odeia a injustiça e o materialismo, no entanto, no final da peça
apresenta-se desesperada pelo sofrimento íntimo que toda a situação que envolve
Gomes Freire lhe provoca.
Citações caracterizadoras da personagem
p. 82 Rita - «A mulher ficou a
chorar até de manhã. Passei-lhe à porta e ouvi-a a soluçar.» «Como ela chorava,
santo Deus! Parecia um animal ferido a ganir à beira de uma estrada…»
p. 85/6 Matilde - « Ele dava-me
a mão, eu dava-lhe a minha, e ficávamos, para aqui, a conversar (…) Enquanto
tiver voz para gritar… Baterei a todas as portas, clamarei por toda a parte,
mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!»
p. 91 Matilde – desde «Sou
Matilde de Melo…» até «… Sou a mulher do General Gomes Freire d’Andrade»
p. 97 Matilde - «… troco a minha
vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada de
todos, mas, a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha!»
p. 139 Matilde - «Vê-a bem,
minha vida, porque, quando a fogueira se apagar, tens de te ir embora… Eu não
vou contigo, mas verás que é por pouco tempo… Isso, pelo menos, me dará Deus…»
Sousa
Falcão («o inseparável
amigo») é o amigo incondicional de Gomes Freire e Matilde. Representa a
impotência perante o despotismo dos governadores. Tem visão crítica, embora já
não acredite na justiça. Por ter sido sempre companheiro de Gomes Freire,
admite a sua cobardia numa perspetiva de reconhecimento individual face à
integridade do General.
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 136 Sousa Falcão - «Não estou
de luto por ele…» até «… é por mim que estou de luto, Matilde! Por mim!...»
Manuel («o mais consciente dos populares»)
representa o povo português, oprimido e impotente para alterar o seu destino,
mostra-se resignado, rendendo-se ao conformismo, por saber que nada pode fazer.
A esperança que deposita no General, transforma-se no cansaço de sobreviver num
mundo em que a sorte irremediável da classe a que pertence o conduz ao
anonimato e à mendicidade.
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 15 Manuel – desde o início do
Acto I até nós não passamos do mesmo sítio.»p.16
p. 105 Manuel - «Perguntou-nos
há pouco…» até «… Então a terra já é só deles.»
Os Populares
(«pano de fundo permanente») funcionam como coro, representando o povo oprimido
e denunciando a violência a que são sujeitos e a pobreza.
D.
Miguel («consciencioso governador
do reino que pretende acabar com a gangrena») simboliza a decadência do país
que governa, possuindo o espírito decrépito e caduco que impede a evolução do
país. O seu caráter megalómano e prepotente alia-se à cobardia e ao calculismo
político desprovido de integridade. É corrupto, desumano, mesquinho, hipócrita
e tem uma ambição desmedida.
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 55 D. Miguel - «Senhores! A
paz deste Reino…» até «… anarquia das almas!»
p. 69 D. Miguel - « Eu também
tenho medo, senhores…» até «…fosse dado escolher os vossos chefes?»
p. 119 Criado - «Sua Ex.ª não
recebe amantes de traidores e amigos dos inimigos d’el-rei.»
Principal
Sousa («consciencioso
governador do reino que pretende acabar com a gangrena») é o representante do
poder eclesiástico, autocrático e dogmático, fanático na defesa de práticas que
não pratica. Odeia os franceses e afirma ser o defensor espiritual de «um
rebanho sem cérebro» pois «a sabedoria é tão perigosa como a ignorância».
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 36 Principal Sousa - «E
talvez não, meu filho…» até «… Compreendes, meu filho?»
p. 38 Principal Sousa - «Vá, meu
filho…» até «…proteja na sua missão»
p. 40 Principal Sousa - «Maior
é, por isso mesmo…» até «… povo tem que continuar a ver, no Céu, a Cruz de
Ourique».
p. 72 Principal Sousa - «Agora
me lembro de que há anos…» até «… a meu irmão Rodrigo!»
p. 123 Matilde «…mas o senhor,
que condena inocentes a quem aconselha…» até «…o senhor pague o que lhe deve.»
Beresford («consciencioso governador do reino que
pretende acabar com a gangrena») é um general inglês enviado para Portugal, que
assume o cargo de chefe supremo do exército e é investido de plenos poderes por
D. João VI. Representa o poder calculista e o interesse material, sob a capa do
auxílio militar, o que o torna num mercenário. É trocista e mordaz, despreza
Portugal, vivendo cá somente por interesse económico.
Citações
caracterizadoras da personagem
p. 57 Beresford - «Porque não
tenciono regressar…» até «… farei tudo o que for necessário para os continuar a
receber!»
p. 63 Beresford - «A minha
missão consiste…» até «…inimigo comum, se não tiver cuidado.»
p. 99 Matilde - «Sr Marechal:
quanto vale, para vós, a vida dum homem?» até Beresford «Não há mais nada a
considerar, minha senhora.»
Vicente («um provocador em vias de promoção») é um
dos traidores do povo que, por dinheiro, “não olha a meios para atingir os seus
fins”. Símbolo da hipocrisia e oportunismo é servil e materialista. Sente-se
revoltado por pertencer à classe social do povo que tanto despreza, vendo, por
isso, na traição, uma saída para a sua vida.
Citações caracterizadoras da personagem
p. 21 Vicente - «Se ele
quisesse? Mas se ele quisesse o quê?» até «… encher a pança! Disso podes estar
certo…»
p. 27 Vicente - «É verdade que
nasci aqui…» até «…Mas vocês não podem perceber isto»
p. 30 Vicente - «Cheira-me a
coisa graúda… se eu souber fazer render o peixe, sou capaz de acabar com uma
capela… ou chefe de polícia, quem sabe?»
p. 31 Vicente - «Os degraus da
vida são logo esquecidos… » até «… por quem o serve com tanta dedicação…»
Uma grande ajuda! obrigado a pessoa que realizou este estudo
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