sexta-feira, 6 de abril de 2012

Caracterização de personagens em Felizmente Há Luar!


Gomes Freire de Andrade («que está sempre presente embora nunca apareça») é uma personagem virtual, uma vez que nunca aparece em cena, mas está sempre presente, sendo, aliás, o motivo de todo o enredo. Desta forma, é tido como um herói e representa a integridade e a recusa à subserviência. O General é morto porque «é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado» (p.71), assim «a simples existência de certos homens é já um crime» (p.95).
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 20 Antigo Soldado - «Um amigo do povo. Um homem às direitas! Quem fez aquele não fez outro igual…»
p. 23 Manuel - «Estrangeirado ou não, é capaz de se bater com os senhores do Rossio…»
p. 32 Vicente - «… a ninguém tem o povo mais amor do que ao primo de V.Excelência. Soldado distinto, súbdito fiel… em ninguém põe o povo mais esperança do que no general…»
p. 71 D. Miguel - «…aí tendes o chefe da revolta. Notai que lhe não falta nada: é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado…»
p.74 D. Miguel - «Morte ao traidor Gomes Freire de Andrade!»
p. 79 Manuel - «Esta madrugada prenderam Gomes Freire… Levaram-no, escoltado, para S. Julião da Barra. Já de lá não sai vivo!»
p. 112/113 Matilde - «O meu homem! O meu homem, que nunca lutou com gente desta… Metido numa masmorra, ele, que se bateu sempre em campo aberto…»
p. 117 Sousa Falcão - «Lembre-se que são primos, e antigos camaradas de armas… Um é franco aberto leal. O outro é a personificação de mediocridade consciente e rancorosa. Gomes Freire perdoaria a D. Miguel Forjaz, mas D. Miguel Forjaz vai enforcar Gomes Freire.»
p. 125 Matilde - «O vosso credor Gomes Freire d’Andrade está numa masmorra por amor da justiça»
p. 126 Frei Diogo - «Se há santos, Gomes Freire é um deles…»
p. 127 Frei Diogo - «Foi um privilégio que Deus lhe deu – o de viver ao lado dum homem como o general Gomes Freire.»

Matilde («a companheira de todas as horas») autocaracteriza-se nas pp. 91 e 92. Amante, esposa e companheira de Gomes Freire, é uma mulher de caráter forte, vibrante, corajosa, recusa a hipocrisia, odeia a injustiça e o materialismo, no entanto, no final da peça apresenta-se desesperada pelo sofrimento íntimo que toda a situação que envolve Gomes Freire lhe provoca.
                        Citações caracterizadoras da personagem
p. 82 Rita - «A mulher ficou a chorar até de manhã. Passei-lhe à porta e ouvi-a a soluçar.» «Como ela chorava, santo Deus! Parecia um animal ferido a ganir à beira de uma estrada…»
p. 85/6 Matilde - « Ele dava-me a mão, eu dava-lhe a minha, e ficávamos, para aqui, a conversar (…) Enquanto tiver voz para gritar… Baterei a todas as portas, clamarei por toda a parte, mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!»
p. 91 Matilde – desde «Sou Matilde de Melo…» até «… Sou a mulher do General Gomes Freire d’Andrade»
p. 97 Matilde - «… troco a minha vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada de todos, mas, a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha!»
p. 139 Matilde - «Vê-a bem, minha vida, porque, quando a fogueira se apagar, tens de te ir embora… Eu não vou contigo, mas verás que é por pouco tempo… Isso, pelo menos, me dará Deus…»

Sousa Falcão («o inseparável amigo») é o amigo incondicional de Gomes Freire e Matilde. Representa a impotência perante o despotismo dos governadores. Tem visão crítica, embora já não acredite na justiça. Por ter sido sempre companheiro de Gomes Freire, admite a sua cobardia numa perspetiva de reconhecimento individual face à integridade do General. 
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 136 Sousa Falcão - «Não estou de luto por ele…» até «… é por mim que estou de luto, Matilde! Por mim!...»

Manuel («o mais consciente dos populares») representa o povo português, oprimido e impotente para alterar o seu destino, mostra-se resignado, rendendo-se ao conformismo, por saber que nada pode fazer. A esperança que deposita no General, transforma-se no cansaço de sobreviver num mundo em que a sorte irremediável da classe a que pertence o conduz ao anonimato e à mendicidade.
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 15 Manuel – desde o início do Acto I até nós não passamos do mesmo sítio.»p.16
p. 105 Manuel - «Perguntou-nos há pouco…» até «… Então a terra já é só deles.»

Os Populares («pano de fundo permanente») funcionam como coro, representando o povo oprimido e denunciando a violência a que são sujeitos e a pobreza.
                       
D. Miguel («consciencioso governador do reino que pretende acabar com a gangrena») simboliza a decadência do país que governa, possuindo o espírito decrépito e caduco que impede a evolução do país. O seu caráter megalómano e prepotente alia-se à cobardia e ao calculismo político desprovido de integridade. É corrupto, desumano, mesquinho, hipócrita e tem uma ambição desmedida.
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 55 D. Miguel - «Senhores! A paz deste Reino…» até «… anarquia das almas!»
p. 69 D. Miguel - « Eu também tenho medo, senhores…» até «…fosse dado escolher os vossos chefes?»
p. 119 Criado - «Sua Ex.ª não recebe amantes de traidores e amigos dos inimigos d’el-rei.»

Principal Sousa («consciencioso governador do reino que pretende acabar com a gangrena») é o representante do poder eclesiástico, autocrático e dogmático, fanático na defesa de práticas que não pratica. Odeia os franceses e afirma ser o defensor espiritual de «um rebanho sem cérebro» pois «a sabedoria é tão perigosa como a ignorância».
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 36 Principal Sousa - «E talvez não, meu filho…» até «… Compreendes, meu filho?»
p. 38 Principal Sousa - «Vá, meu filho…» até «…proteja na sua missão»
p. 40 Principal Sousa - «Maior é, por isso mesmo…» até «… povo tem que continuar a ver, no Céu, a Cruz de Ourique».
p. 72 Principal Sousa - «Agora me lembro de que há anos…» até «… a meu irmão Rodrigo!»
p. 123 Matilde «…mas o senhor, que condena inocentes a quem aconselha…» até «…o senhor pague o que lhe deve.»

Beresford («consciencioso governador do reino que pretende acabar com a gangrena») é um general inglês enviado para Portugal, que assume o cargo de chefe supremo do exército e é investido de plenos poderes por D. João VI. Representa o poder calculista e o interesse material, sob a capa do auxílio militar, o que o torna num mercenário. É trocista e mordaz, despreza Portugal, vivendo cá somente por interesse económico.
            Citações caracterizadoras da personagem
p. 57 Beresford - «Porque não tenciono regressar…» até «… farei tudo o que for necessário para os continuar a receber!»
p. 63 Beresford - «A minha missão consiste…» até «…inimigo comum, se não tiver cuidado.»
p. 99 Matilde - «Sr Marechal: quanto vale, para vós, a vida dum homem?» até Beresford «Não há mais nada a considerar, minha senhora.»

Vicente («um provocador em vias de promoção») é um dos traidores do povo que, por dinheiro, “não olha a meios para atingir os seus fins”. Símbolo da hipocrisia e oportunismo é servil e materialista. Sente-se revoltado por pertencer à classe social do povo que tanto despreza, vendo, por isso, na traição, uma saída para a sua vida.
                        Citações caracterizadoras da personagem
p. 21 Vicente - «Se ele quisesse? Mas se ele quisesse o quê?» até «… encher a pança! Disso podes estar certo…»
p. 27 Vicente - «É verdade que nasci aqui…» até «…Mas vocês não podem perceber isto»
p. 30 Vicente - «Cheira-me a coisa graúda… se eu souber fazer render o peixe, sou capaz de acabar com uma capela… ou chefe de polícia, quem sabe?»
p. 31 Vicente - «Os degraus da vida são logo esquecidos… » até «… por quem o serve com tanta dedicação…»

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