terça-feira, 17 de abril de 2012

Planos para as questões B de Exame - Os Lusíadas

«Por obras valerosas que fazia,

Pelo trabalho imenso que se chama

Caminho da virtude, alto e fragoso,

Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso»


Canto IX, 90


Luís de Camões, Os Lusíadas,
Os versos transcritos formulam uma perspetiva do heroísmo presente em Os Lusíadas.
Com base na sua experiência de leitura, explicite o modo como, ao longo da viagem, os navegadores portugueses se tornaram dignos de serem recebidos na «Ilha dos Amores», fundamentando a sua exposição em dois exemplos significativos.
Escreva um texto de oitenta a cento e trinta palavras.

A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes.
Em Os Lusíadas, o heroísmo dos navegadores, recompensado na «Ilha dos Amores», é provado pelo esforço e pelo sacrifício necessários à superação de múltiplos obstáculos:
– a passagem do Cabo das Tormentas (episódio do «Adamastor»);
– as condições meteorológicas adversas (a tromba-d’água, a tempestade, o fogo de Santelmo);
– a opinião contrária às Descobertas (episódio do «Velho do Restelo»);
– os ataques e as ciladas;
– ...

Características épicas e líricas em Mensagem


Características do discurso épico:
      uso narrativo da 3.ª pessoa;
      importância conferida à História;
      apresentação de um acontecimento histórico por um protagonista de alta estirpe (social e moral);
      mitificação de um herói – celebração dos feitos de um herói, tornando-o imortal;
      concretização de uma ação heroica e admirável, com a ajuda de um ser sobrenatural;

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mundo inteligível


Sonho/Realidade (evasão, angústia, tédio, frustração) - citações


Sonho/Realidade (evasão, angústia, tédio, frustração)

«…o sonho é muitas vezes, para Fernando Pessoa, uma compensação para a realidade amarga e hostil (…). Perante a realidade decepcionante, o sonho aparece como o único caminho; uma forma de evasão, de esquecimento. (…)
«Porém o sonho, mais do que uma compensação, aparece por vezes como substituição à própria vida. Incapaz de aderir ao presente, à realidade que lhe aparece como demasiadamente forte, o poeta refugia-se no sonho. (…)

Nostalgia de um bem perdido/desagregação do tempo - citações


Nostalgia de um bem perdido/Desagregação do tempo

«A infância é a inconsciência, o sonho, a felicidade longínqua, uma idade perdida e remota que possivelmente nunca existiu a não ser como reminiscência»
Isabel Pascoal, Poemas de Fernando Pessoa

Fragmentação do eu - citações


Fragmentação do eu

             «Passageiro, viageiro, peregrino através da sua própria alma – é a imagem de si que o poeta permanentemente nos transmite.
«A alma que quer fixar, que fora de si, à sua frente, se desdobra como uma +paisagem é, contudo móbil: apenas à sua passagem o poeta pode assistir. Apenas pode, afinal (como tantas vezes, por outras palavras, disse) viajar através de si próprio, vendo-se e ouvindo-se, como «canção de viagem», que se sente ser.
«É o poeta que viaja através da sua alma-múltipla ou, inversamente, é viajado por ela? Seja como for, tudo é viagem: paisagem e passagem.»
Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer

Dor de pensar - citações


Dor de Pensar

«A extensão dos seus sentimentos é constantemente diminuída pela vastidão do seu pensamento. A vida não pode encontrar em Fernando Pessoa o que a vida requer para ser vivida – completo abandono aos sentimentos que desperta. Daí a dualidade constante desse homem que vive e pensa simultaneamente, e que, pensando o que vive, pensa, precisamente, que a vida só vale a pena ser vivida quando vivida sem pensamento, uma vez que o pensamento, pecado original de toda a vida, corrompe a inconsciência inerente à própria felicidade de viver.»
J. G. Simões, Vida o Obra de Fernando Pessoa

Nota biográfica escrita por Fernando Pessoa (com a data de 30 de março de 1935)


Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa
Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de São Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Alberto Caeiro - características-chave


Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.

Fragmentação do eu


Pessoa por ele próprio…
                  «Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.» Bernardo Soares1

                  «Meu Deus, meu Deus, a quem assisto? Quantos sou? Quem é eu? O que é este intervalo entre mim e mim?» Bernardo Soares1

                  «Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também.» Bernardo Soares 1

                «Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).» Fernando Pessoa2

                  «Sou múltiplo. Sou um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única realidade que não está em nenhuma e está em todas.»  Fernando Pessoa2
1 – Livro do Desassossego; 2 – Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação

Fingimento poético


Os Vampiros - Zeca Afonso

Felizmente Há Luar!

O cão raivoso - Sérgio Godinho

Felizmente Há Luar!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Planos para as questões B de Exame - Os Lusíadas - visão crítica


B (Exame de 2009)
Considere a seguinte opinião sobre Os Lusíadas:
«Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.»
Maria Vitalina Leal de Matos, Tópicos para a Leitura de Os Lusíadas,
Lisboa, Editorial Verbo, 2004
Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, comente, num texto de oitenta a cento e vinte palavras, a opinião acima transcrita.

Hoje é o primeiro dia - Sérgio Godinho

Felizmente Há Luar!

Teatro épico/influência brechtiana - II

Bertold Brecht (1898-1956) – dramaturgo, encenador e poeta alemão. Recusa o teatro dramático aristotélico, fundado na ilusão e identificação, e defende, desde 1926, o teatro épico e os seus princípios de distanciação (Verfremdunseffekt). 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Como fazer uma boa caracterização de personagens


Caracterização da personagem General Gomes Freire de Andrade com base nas páginas 126 a 129.

Leitura ativa do excerto – deteção das características do General

Citação
Significado
«Se há santos, Gomes Freire é um deles…»; «Foi um grande privilégio que Deus lhe concedeu – o de viver ao lado de um homem como o general Gomes Freire» Afirmações de Frei Diogo
Caráter do General – pessoa com valores, correta, íntegra, digna, inocente perante o crime de que é julgado;

«…o general pediu-me para a procurar (…) tem pensado em si constantemente.» Afirmação de Frei Diogo
Amor que o General sente por Matilde
«Não faça a Deus o que os homens fizeram ao general Gomes Freire: não O julgue sem O ouvir.» Afirmação de Frei Diogo
Gomes Freire como o “bode expiatório” dos governadores; inocência do general
«Um homem a sério, capaz de palmilhar as estradas da Galileia? Capaz de passar 40 dias no deserto, ou 150 dias metido numa masmorra?» Afirmação de Matilde
Gomes Freire comparado a Cristo, por ser um homem com valores, correto, justo, íntegro, etc
«Esses morrem na forca ou apodrecem nas prisões, não vá a sua presença incomodar a burocracia de Deus!» Afirmação de Matilde
Gomes Freire como alguém cuja presença é incómoda, já que questiona as leis vigentes e é um líder capaz de destronar o regime existente a favor de valores humanos
«Não reza porque viveu tão perto de Deus que nem precisa de se lhe dirigir…» Afirmação de Matilde
O General como crente a Deus, vivendo sempre uma vida digna de um bom cristão

Caracterização

1º parágrafo – frase introdutória de apresentação da personagem;
 Parágrafos seguintes – caracterização da personagem com recurso a levantamentos textuais comprovativos das afirmações feitas;
 Último parágrafo – frase conclusiva acerca da personagem salientando a característica principal da mesma. 

Exemplo:

Linguagem e estilo em Felizmente Há Luar!


            A linguagem é viva e maleável e caracterizadora do estatuto social das personagens, da relação estabelecida entre si e de afectividade. Evidencia-se a diversidade de registos de língua que oscila entre o cuidado e o popular – calão, como por exemplo «idiotas» e «bestas» (Vicente), expressões do nível familiar «não há mas nem meio mas», alguns provérbios «a voz do povo é a voz de Deus», frases em latim, por vezes proferidas com ironia e sarcasmo e diminutivos com tom pejorativo, como «fidalgotes».

Simbologia do título Felizmente Há Luar! - II


      Para D. Miguel, o facto de haver luar permite que as pessoas saiam de casa à noite. O luar como símbolo da hipocrisia, falsidade e aparência de ter luz própria. O luar funcionará pela sua luz, como efeito dissuasor da luta pela liberdade, há uma intenção repressiva, pois esta morte servirá de exemplo - p. 131 
       Para Matilde – o facto de haver luar permite que as pessoas saiam de casa à noite e vejam o exemplo a seguir. Esta frase surge como um grito de esperança, são palavras de coragem e de estímulo para que o povo se revolte contra a tirania dos governantes, assume assim uma função didáctica apelando a que o povo sonhe e lute pela liberdade – p. 140

Simbologia em Felizmente Há Luar! - I



Os elementos simbólicos são portadores de uma dupla dimensão simbólica/ Os símbolos assumem uma dualidade de sentidos para a qual convergem a vida e a morte, numa perspectiva polissémica e dicotómica (bipolarização).

·       Relógio de bolso e colete (p.17): símbolos de riqueza, a que os populares fazem referência de forma irónica e sarcástica, para demonstrarem a grande dicotomia existente entre pobres e ricos;
·       Tambores (p.17, 71, 73 e 77): símbolo da repressão exercida sobre o povo e da opressão do poder sobre eles;
·     Moeda (p.31) – símbolo da humilhação que os mais pobres sofrem e da arrogância e do desprezo que os mais poderosos exercem sobre eles;
·       Três cadeiras pesadas e ricas com aparência de tronos (p.47, 121): símbolos do poder político exercido por D. Miguel Forjaz, do poder militar exercido por Beresford e do poder religioso exercido pelo Principal Sousa; símbolos da regência dos “reis do Rossio”;
·       Púlpito (p.74): símbolo do poder religioso sobre o povo ignorante que vive no obscurantismo;
·      Noite (p.60, 80, 116): símbolo de morte que será convertido em vida através da esperança de um Portugal livre; símbolo das gestações, das germinações, das conspirações que desabrocharão em pleno dia como manifestação de vida;
·       Cadeira tosca (p.83): símbolo da modéstia de Matilde;
·    Cómoda e cadeira do General Gomes Freire (p.84): símbolo dos pertences pessoais do General Gomes Freire e da sua modéstia;
·       Uniforme velho do General (p.84): símbolo de glórias e batalhas passadas, de batalhas ganhas;
·     Moeda de cinco réis (p.107, 119): símbolo da humilhação que os mais pobres sofrem e da arrogância e do desprezo que os mais poderosos exercem sobre eles; símbolo da revolta de Matilde; (p.109): ao pedir a moeda, Matilde assume a responsabilização de não ter compreendido verdadeiramente a situação da miséria do povo; (p.110): moeda enquanto medalha que relembra a luta que Matilde trava pela salvação do General; (p.120): referência às trinta moedas com que Judas foi pago pela sua traição a Cristo; (p.134): símbolo de traição da Igreja, paralelamente a Judas que traiu Cristo, também o Principal Sousa traiu os valores cristãos, trocando-os pelo poder (corrupto e hipócrita);
·      Saia verde (p.114, 137-138): símbolo do amor entre Matilde e o General Gomes Freire e da esperança que a sua morte possa dar lugar à vida e à renovação; símbolo da liberdade por associação a França; símbolo de esperança pela cor; 
.      Fogueira (p.131): símbolo de destruição e de morte, mas também de regeneração e de luz.

Tempo - Felizmente Há Luar!


            Histórico – O tempo retratado na peça é 1817, momento de regime absolutista em que Portugal se tinha aliado a Inglaterra e a corte exilado no Brasil. p.16 «Vê-se a gente livre dos Franceses, e zás! Cai nas mãos dos Ingleses! E agora? Se acabamos com os Ingleses, ficamos nas mãos dos reis do Rossio.».
        

Espaço - Felizmente Há Luar!


            Físico – a ação desenrola-se em Lisboa. Os espaços são nomeados, no entanto não existem indicações cénicas de construção de cenário ilustrativo de nenhum local específico. O cenário faz-se a partir dos efeitos de luz e som. Este espaço é interior e exterior.  Espaço exterior p. 16 «Ilumina-se subitamente…»; Espaço interior p. 47 «Ilumina-se o palco … em três cadeiras…»
            Social – retrato da sociedade de 1817, a opressão, o despotismo, a injustiça, … este espaço social é dicotómico, já que existem de um lado os ricos e poderosos e do outro os pobres e miseráveis.  Pobres p. 16 «Ilumina-se subitamente…»; Ricos p. 36 «O principal Sousa surge no palco, imponentemente vestido»
            Psicológico – O espaço psicológico é, assim como o social, dicotómico, uma vez que coexistem os oponentes e os adjuvantes. P. 85 «Relembrávamos o nosso hotel de Paris…os passeios que dávamos ao longo do Sena…os dias felizes que passámos juntos… o tempo em que sonhávamos voltar a esta malfadada terra…» p.101 «Por quanto tempo é que o vão deixar metido numa masmorra, perdendo aos poucos a fé que tinha na gente desta terra?»

Caracterização de personagens em Felizmente Há Luar!


Gomes Freire de Andrade («que está sempre presente embora nunca apareça») é uma personagem virtual, uma vez que nunca aparece em cena, mas está sempre presente, sendo, aliás, o motivo de todo o enredo. Desta forma, é tido como um herói e representa a integridade e a recusa à subserviência. O General é morto porque «é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado» (p.71), assim «a simples existência de certos homens é já um crime» (p.95).
            Citações caracterizadoras da personagem