quarta-feira, 16 de maio de 2012

As Transgressões na obra Memorial do Convento


Transgressão do código religioso
  • Sumptuosidade do convento (pp.365-6) vs a simplicidade e a humildade (essência dos valores cristãos);
  • Recrutamento à força;
  • Construção da passarola vs a proibição de ascender a um plano superior/divino (p. 198) - 4 bases de solidez do projecto: Bartolomeu, Baltasar, Blimunda e Scarlatti;
  • A castidade vs as relações sexuais nos conventos (pp. 95,97);
  • As estátuas dos santos (p. 344) vs a santidade humana (p. 342);
  • Missa, espaço de vivência espiritual (p. 145) vs missa, espaço de namoros e de encontros clandestinos (pp. 43, 162, 236);
  • A benção de Deus vs a benção dos homens;
  • Funeral do Infante D. Pedro, espectáculo de pompa e circunstância vs funeral do sobrinho de Baltasar, manifestação isolada de dor.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Ser Saramago e o Memorial do Convento


Algumas linhas de crítica em Memorial do Convento


Linhas de crítica:
- à igreja – religião, clero e ordens religiosas – por ex. p. 26 parágrafo «Vimos como em instância…» ;
- às terríveis discrepâncias sociais – por ex. p. 27 «No geral do ano… quando nasce, é para todos.»;
- à prepotência real – por ex. p.315 «só a vontade de el-rei prevalece, o resto é nada…» parágrafo iniciado na p. 314 «A princesa já não pensa…»;
- à má administração – por ex. p. 138 parágrafo «Ao outro dia…» - «por causa do dinheiro não sejam os atrasos, gasta-se o que for preciso.»;
- à futilidade e imbecilidade dos poderosos – por ex. p. 300 «Veio devolvida a coitada… mais sabendo menos.» anterior ao parágrafo «A história dos casamentos…».

Intenções simbólicas em Memorial do Convento

Estilo Saramaguiano - II


Principais marcas da linguagem e estilo de José Saramago (cf. Manual pp. 309-311)
- metáfora;
- comparação;
- ironia;
- hipálage;
- enumeração;
- adjetivação rica e expressiva;
- diversos registos de língua, não só quando falam as personagens, como também no discurso do narrador (o registo de língua familiar e popular é utilizado, frequentemente, com sentido irónico e crítico ou como forma de tradução do estrato social das personagens);
- marcas de oralidade, inclusão de regionalismos, palavras populares e calão;
- oposições sugeridas por vocábulos antónimos (p. 27 final do parágrafo «No geral do ano…»);
- formas verbais: gerúndio; presente do indicativo e imperativo;
- construção frásica: frases longas; paralelismos de construção (p. 26 parágrafo «Vimos como em instância…»); utilização do polissíndeto (p.99 parágrafo que começa na p. 98 «Já lá vai pelo mar…» - «A praça está toda rodeada… remata o varão da bandeira.»); utilização do paralelismo de construção e do polissíndeto (p. 113 parágrafo que começa na p. 112 «Na guerra de João…»);
- ausência de sinais gráficos indicadores de diálogo;
- hibridismo de tipologias discursivas (o narrador utiliza discurso direto, indireto e indireto livre, sem proceder às demarcações tradicionais ao nível gráfico e lexical);
- recurso a expressões idiomáticas, frases feitas, provérbios e subversão dos mesmos;
- utilização de deíticos, sejam os demonstrativos sejam os advérbios que apontam para um tempo e um espaço próximos do narrador;
- etc…

Estilo Saramaguiano


Aspetos relativos ao estilo saramaguiano
·   Aproximação da simulação quer do discurso oral, quer do monólogo interior, em que os pensamentos ininterruptos, sobrepostos, múltiplos alógicos, verbalizados de forma mais ou menos coerente, confluem de forma extremamente rápida e contínua.
· Emprego da vírgula que, sobrepondo-se aos demais sinais de pontuação, separa as várias falas das personagens e ritma o texto, marcando as suas pausas mais ou menos longas, assim como tem um papel fundamental na aceleração do ritmo de leitura do texto, já que as pausas definidas por vírgulas não serão nunca muito extensas e deixam apenas tempo ao leitor de acertar a sua respiração e preparar o fôlego.
· Também estão ausentes os sinais de pontuação que habitualmente são responsáveis pelas entoações quer exclamativa, quer interrogativa, cabendo ao leitor e à sua leitura a descoberta da sua presença na narrativa.
· Destaque-se, ainda, um tom coloquial e dialogante, com invetivas ao leitor, entrando em interação com um estilo e uma linguagem cujo paradigma é claramente o dos sermões barrocos do século XVIII. Será importante referir neste ponto as alusões ao sermão enquanto exercício oratório (p. 92 parágrafo «Quando calha, vem o Padre Bartolomeu Lourenço…»; p. 164 parágrafo «Tendes razão, disse o padre…»; p. 174 parágrafo «Et ego in illo…»)

terça-feira, 8 de maio de 2012

A música de Domenico Scarlatti

A  música que acompanhou o sonho de voar em Memorial do Convento. (algumas hipóteses)

Intertextualidades


Os intertextos de Memorial do Convento
            Encontram-se, nesta obra, várias intertextualidades com outras obras de referência:
a)     Os Lusíadas – p. 137 – parágrafo «Uns dias antes dera-se em Mafra…» - «foi como o sopro gigantesco de Adamastor… nossos trabalhos.»; p. 207 – parágrafo «O susto, o júbilo, cada qual de sua vez…» - «…que adamastores, que fogos-de-santelmo … tornam a dar salgado.»; p. 209 – parágrafo que inicia «Em poucos minutos, a máquina atinge…» - «Na frente deles ergue-se um vulto escuro, será o Adamastor desta viagem, montes que se erguem redondos da terra, ainda riscados de luz vermelha na cumeada.»; p. 300 – frase antes do parágrafo que inicia «Deitaram reverentemente…» - «vós me direis qual é mais excelente, se ser do mundo rei, se desta gente»; p. 304 – parágrafo «Corriam as mulheres, choravam…» - «ó doce e amado esposo…ó pátria sem justiça»; p.312 – parágrafo «Assim acautelado…» - «…este velho de aspecto venerando, ainda que sujo…»;

Categorias da narrativa - Espaço

Categorias da narrativa - Tempo

Caracterização de Personagens - II

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Caracterização de Sousa Falcão (p. 136-137) pelos alunos


           
        Sousa Falcão é um homem de ideais, fiel aos seus valores, e grande amigo do general Gomes Freire e de sua mulher, Matilde.
Vive atormentado pela dura realidade imposta pela condenação de Gomes Freire à pena da morte, realidade que devia ser destinada, igualmente, a si. Assume uma atitude derrotista perante a convicção do General, por isso veste-se de “negro”, dizendo estar de luto por ele mesmo (“Ele ainda está vivo, António. Não devia ter vindo de luto. (…) Não estou de luto por ele, Matilde (…)”). Sousa Falcão vê, nos seus valores, os de um homem justo, muito semelhantes aos do seu grande amigo Gomes Freire, todavia, ao contrário deste ele não está condenado à forca, por isso considera que “Quando os justos estão presos, só os injustos podem ficar fora das cadeias”, ou seja, neste momento, ele é um homem “injusto”. Sente-se revoltado e indignado por não partilhar o destino traçado a Gomes Freire (“Fosse eu digno da ideia que de mim mesmo tinha, e estava lá em baixo, em S.Julião da Barra, ao lado de Gomes Freire, esperando a morte… (…) As ideias de Gomes Freire são também as minhas, mas ele vai ser enforcado - e eu não.”). Queixa-se de ser um indivíduo com aparente falta de coragem, e é sempre o homem que fica em segundo plano, na segunda linha (“Faltou-me sempre coragem para estar na primeira linha…”). Rege a sua vida de acordo com os mesmos ideias do General, mas opta por não o demonstrar publicamente, considera-se um cobarde (“(…) dei comigo à beira de lhe chamar louco, para desculpar a minha própria cobardia”), utilizando esta característica para justificar a sua falta de iniciativa.
Sousa Falcão é, portanto, um idealista convicto dos seus ideias, mas que, nos momentos mais marcantes, opta por se situar num segundo plano, mais seguro, contudo menos digno face à luta pelos valores da liberdade, igualdade e fraternidade.

André Cid, 12º1C (2011-12)
 
           António de Sousa Falcão é o “inseparável amigo” do General Gomes Freire D’Andrade na obra Felizmente Há Luar!, sendo para além de Matilde, o único que o apoia incondicionalmente.
            Nesta cena, Sousa Falcão apercebe-se de que devia estar ao lado de Gomes de Freire e passar pelo que ele passou e pelo final inevitável que terá, pois apesar de nenhum dos dois ter feito algo de mal, ambos partilharam as mesmas ideias e desejo de mudança, e só Gomes Freire foi castigado por tal.
            Pelas palavras de Sousa Falcão, percebemos que ele sente que é um fraco e que devia ter tido coragem e enfrentar as consequências com que Gomes Freire está a lidar, afirmando que nem merece ser seu amigo “Fosse eu digno da ideia que de mim mesmo tinha, e estava lá em baixo, em S. Julião da Barra, ao lado de Gomes Freire, esperando a morte…”, pois Sousa Falcão sente culpa por não ser punido tal como Gomes Freire que está sozinho na masmorra, e ele está cá fora, são e livre, apesar de conspirar e partilhar os mesmos ideais que o General, como foi anteriormente referido, mas “Faltou-[lhe] sempre coragem para estar na primeira linha…”, e é essa cobardia que caracteriza esta personagem que se arrepende de não ter feito mais pelo seu fiel amigo.
            Concluindo, Sousa Falcão é um amigo fiel que espiritualmente é capaz de lutar por uma causa, mas a sua cobardia acaba por vencer, impedindo-o de agir.

Inês Mendes, 12º5 (2011-12)