quarta-feira, 13 de maio de 2015

Análise de excertos do capítulo VII, VIII, XI - Memorial do Convento

Proposta de correção do Manual – Expressões – Porto Editora – p. 302

1.1. A modificação do provérbio serve ao narrador para recordar a promessa de D. João V, exigível mesmo depois da morte do franciscano a quem a fizera. A transformação do adágio popular evidencia a sua dimensão moralizadora, destacando a necessidade de cumpri- mento de compromissos estabelecidos.

2. D. João V escolhe o Alto da Vela por lhe parecer um local fértil, rico em água e próximo do mar.


3. As formas verbais “sosseguemos” (l. 5), “Haveremos” (l. 6) e “Oremos” (l. 11) denotam a inclusão do narrador no uni- verso diegético, fazendo-se parte do grupo de personagens que aguardam o cumprimento da promessa do rei. Deste modo, confere ao discurso maior credibilidade. O termo “Oremos” remete para o discurso religioso, pelo que adquire, no contexto, um tom irónico.

4. As formas verbais estão conjugadas no pretérito mais-que-perfeito do indicativo, uma vez que referenciam ações concretizadas antes do presente da narrativa, ou seja, anteriores à visita do padre Bartolomeu à abegoaria.

5. Sendo uma “multidão” um grande número de pessoas, algumas “centenas” configuram, obviamente, uma multidão. A ironia do narrador encerra uma crítica à historiografia oficial, que omite habitual- mente as massas anónimas. Ao colocar em evidência o grupo de operários do convento, o narrador deliberadamente refere o seu número, como forma de destacar o seu esforço e a sua valentia, geralmente ignorados.

6. O padre Bartolomeu estranhou a quantidade de pessoas no local e também o facto de se movimentarem agitadamente ao som de uma “trombeta” (ll. 39 e 41). Pela semelhança de ambiente, considerou estar diante de uma festa ou em cenário de guerra.

7. Com o recurso à repetição do nome “homens” e a vocábulos que reenviam para a sua quantidade, o narrador confirma a ideia de que se tratava de uma “multidão” de trabalhadores.

8. A aproximação dos homens às formigas evidencia quer a quantidade de operários, quer a organização e a rapidez dos trabalhos. Conhecidas pela sua natureza laboriosa, as formigas servem de termo de comparação com os homens, igualmente dedicados a um trabalho coletivo. Contudo, o comentário final do narrador evidencia a diferença existente entre os dois grupos ao nível do proveito: apesar de o esforço de ambos terminar “num buraco” (l. 49), ele representa a alimentação e a vida das formigas, ao passo que corresponde à morte, física ou na memória histórica, dos homens.

9.1. Narrador heterodiegético: “El-rei foi a Mafra escolher o sítio onde há de ser levantado o convento.” (l. 7); Narrador homodiegético: “porém sosseguemos, a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas, e D. João V é rei de palavra. Haveremos convento.” (ll. 5-6);
Narrador reflexivo e descritivo: “um homem pode ser grande voador, mas é-lhe muito conveniente que saia bacharel, licenciado e doutor, e então, ainda que não voe, o consideram.” (ll. 13-15); “estava a abegoaria em abandono, dispersos pelo chão os materiais que não valera a pena arrumar, ninguém adivinharia o que ali se andara perpetrando.” (ll. 17-20);
Narrador sentenciador e moraliza- dor: “Nem sempre se pode ter tudo” (l. 1); “a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas” (ll. 5-6); Narrador crítico e irónico: “com todas as disposições, licenças e matriculações necessárias, partiu o padre Bartolomeu Lourenço para Coimbra” (ll. 25-28); Narrador gestor omnisciente da matéria histórica e ficcional: “Haveremos convento.” (l. 6); “Até à vila de Mafra, aonde primeiro vai, não tem a viagem história, salvo a das pessoas que por estes lugares moram” (ll. 29-32).

10. A ação decorre entre a quinta de S. Sebastião da Pedreira e o Alto da Vela (onde D. João V se encontra no início do excerto e onde o padre Bartolomeu encontra, anos volvidos, os trabalhadores do convento). O primeiro local associa-se simbolicamente à construção da passa- rola, sendo, por isso, conotado com a ideia de sonho e de concretização. O segundo, igualmente espaço de construção, representa o carácter disfórico dessa atividade, assente na exploração dos trabalhadores e associando-se aos valores negativos do sacrifício e da dor/morte.




Sem comentários:

Enviar um comentário