Proposta de correção do Manual – Expressões – Porto
Editora – p. 289-290
1. É possível distinguir no texto quatro partes,
correspondentes a cada um dos quatro parágrafos. A primeira parte consiste numa
reflexão sobre a ausência de descendentes do casal real. A segunda parte
constitui a descrição da construção da Basílica de S. Pedro de Roma, em
miniatura, por D. João V. A terceira parte apresenta a preparação do rei para a
visita ao quarto da esposa. A última parte consiste no anúncio da chegada de
dois membros do clero.
2. O provérbio é usado para dar a entender o facto de
o rei, embora jovem, já ter vários filhos bastardos, cujo número provavelmente
aumentaria com o passar dos anos.
3. A utilização repetida do advérbio “naturalmente”
contribui para dotar as palavras do narrador de uma autoridade popular, uma
vez que as mesmas verba- lizam a mentalidade da época. Os problemas de
fertilidade eram vistos como exclusivamente femininos, nunca sendo posta em
causa a fertilidade do homem. A mulher era apenas um “vaso de receber” (l.
15), um ser passivo e submisso numa relação em que o elemento determinante e
atuante era o homem, conforme sintetiza a metáfora “O cântaro está à espera
da fonte” (l. 68).
4. D. Maria Ana corresponde ao protótipo da mulher da
época, obediente e subjugada. Sujeita-se aos desejos do esposo, “que, salvo
dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre
vigorosamente o seu dever real e conjugal” (ll. 18-22) e mostra-se “suplicante”
(l. 16) a Deus, pedindo-lhe os herdeiros que, em “mais de dois anos” (l.
2) ainda não conseguira dar ao rei. Caracteriza-se igualmente por ser paciente
e humilde (l. 22), como o com- prova a “imobilidade total” (l. 24) a que
se sujeita para favorecer a fecundação.
5. A hipérbole destaca, de modo irónico, a
grandiosidade, aos olhos do rei, da reprodução da Basílica de S. Pedro de Roma
e a importância de que se reveste para ele essa ocupação. A comparação com Deus
pode ainda remeter para o carácter divino do poder real, conforme preconizado
pelo absolutismo representado por D. João V.
6. D. João V é um rei pouco modesto, que se compraz na
sua pessoa e nas suas capacidades. É vaidoso e agrada- -lhe a aproximação a
outras figuras reconhecidas, como o Papa Paulo V, em cujo “número ordinal” (l.
44) se revê. Por vaidade, constrói uma réplica da Basílica de S. Pedro de Roma
que permite às figuras de encaixar ver não “a Praça de S. Pedro, mas o rei
de Portugal e os camaristas que o servem” (l. 52). Revela- -se um rei
caprichoso e egocêntrico, servido em todas as tarefas por inúmeros camaristas
que o tratam, e aos seus pertences, “tão reverentemente como relíquias” (l.
62).
7. “passadas as roupas de mão em mão tão
reverentemente como relíquias de santas” (ll.
61-62); “Enfim, de tanto se esforçarem todos ficou preparado el-rei” (l.
66).
8. A enumeração confere à descrição um carácter cómico
e caricatural ao apre- sentar um número elevado de servidores do rei com
funções muito limitadas e, em certos casos, apenas como figurantes num espetáculo
representativo da vaidade e da ostentação reais. A desorientação dos criados
surge como resultado da excentricidade do monarca.
9. O rei e a rainha desenvolvem uma relação pouco
afetuosa e baseada no cumprimento do “dever real e conjugal” (ll. 21-22).
Os seus encontros sexuais revestem a forma de um ritual, preparado com a ajuda
de terceiros e isento de envolvimento afetivo. Cumprem meramente as funções que
lhe estão destinadas pela mentalidade e pelos costumes da época.
10. O último parágrafo abre com um conector de valor
adversativo, pois a situação relatada em seguida impede que, conforme fora
anunciado anterior- mente, o rei “se encaminhe ao quarto da rainha” (l.
68). A visita dos religiosos atrasa (ainda mais) o encontro conjugal entre D.
João V e D. Maria Ana.
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