O DOS CASTELOS - Primeira parte – Brasão – Os Campos
A Europa
jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente
jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos
cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é
recuado;
O direito é em ângulo
disposto.
Aquele diz Itália onde é
pousado;
Este diz Inglaterra onde,
afastado,
A mão sustenta, em que se
apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico
e fatal,
O Ocidente,
futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Þ
A missão de Portugal é fitar o futuro e o mistério
e ligar espiritualmente o ocidente e o oriente
O DAS QUINAS - Primeira parte – Brasão – Os Campos
Os Deuses vendem quando
dão.
Compra-se a glória com
desgraça.
Ai dos felizes, porque
são
Só o que passa!
Baste a
quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é
breve, a alma é vasta:
Ter é
tardar.
Foi com desgraça e com
vileza
Que Deus ao Cristo
definiu:
Assim o opôs à Natureza
E
Filho o ungiu.
Þ
Para alcançar a glória é preciso sofrer e é mais
fácil alcançá-la se nos desprendermos dos bens materiais
VIRIATO - Primeira parte – Brasão – Os Castelos
Se a alma que sente e faz
conhece
Só porque lembra o que
esqueceu,
Vivemos, raça, porque
houvesse
Memória em nós do
instinto teu.
Nação porque
reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a
haste —
Assim se
Portugal formou.
Teu ser é como aquela
fria
Luz que precede a
madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na
antemanhã, confuso nada.
Þ
Viriato – fundador da lusitânia – “luz que precede
a madrugada” lusa – símbolo do heroismo, da valentia e da luta pela
independência
Þ
É necessário criar as condições para que Portugal
possa ressurgir
O CONDE D. HENRIQUE -- Primeira
parte – Brasão – Os Castelos
Todo começo é
involuntário.
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e
fez-se.
Þ
É o fundador do condado portucalense
Þ
A iniciativa tem que partir de Deus, o herói
executa a vontade
D. TAREJA - Primeira parte –
Brasão – Os Castelos
As nações todas são mistérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios.
Vela por nós!
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus
fadou.
Por ele reza!
Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o
cria!
Þ
Início da primeira dinastia em Portugal.
Þ
A mãe de Portugal que continue a ser protetora
Þ
Portugal envelheceu, é preciso um Portugal novo
Þ
O futuro tem que ter em conta o presente e as
lições do passado
D.
AFONSO HENRIQUES
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá,
contra a hora em que, errada,
Novos
infiéis vençam,
A
bênção como espada,
A
espada como bênção!
Þ
D. Afonso Henriques – o fundador do reino – o pai!
Þ
Representa a luta do passado e a construção na
nação.
Þ
A vigília do presente é nossa – é atual.
Þ
É o exemplo de força e de coragem para construir uma
nova nação.
Þ
A arma que combate o mal é a arma que constrói a
paz.
D. FILIPA DE LENCASTRE - Primeira
parte – Brasão – Os Castelos
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Graal,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
Þ
A mãe da ínclita geração
D. DUARTE
REI
DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas
Meu dever fez-me, como Deus ao
mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.
Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu
dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.
Þ
5 personagens, 5 quinas, 5 chagas de Cristo
Þ
Consciência do destino das cinco personagens e de
Portugal
Þ
D. Duarte reinou apenas 5 anos, reinado
conturbado, receio de que as opções tomadas não fossem as melhores, a peste.
Þ
Homem de cultura - Saudade
D. FERNANDO
INFANTE
DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas
Deu-me Deus o seu gládio porque eu
faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em
desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e
doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido
dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a
minha alma.
Þ
Cativo dos mouros, humilhado e martirizado,
aconselhou o irmão a não entregar Ceuta
Þ
A capacidade de suportar todos os tormentos em
nome da Fé
Þ
Predestinação de D. Fernando
D.
PEDRO
REGENTE DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indiferente
ao que há em conseguir
Que
seja só obter;
Dúplice
dono, sem me dividir,
De
dever e de ser —
Não
me podia a Sorte dar guarida
Por
não ser eu dos seus.
Assim
vivi, assim morri, a vida,
Calmo
sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!
Þ
O pensamento, o sentimento e a vontade
Þ
Homem que honra os seus compromissos, fiel às suas
ideias – só assim construiremos o império espiritual
D.
JOÃO
INFANTE DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas
Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre
tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente
eleita,
Virgemmente
parada;
Porque
é do português, pai de amplos mares,
Querer,
poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
O todo, ou o seu nada.
Þ
Um povo é construído por homens que se destacam e
por homens que se anulam para que outros possam brilhar – e todos têm um lugar
neste mundo
NUN’ÁLVARES PEREIRA Primeira
parte – Brasão – Coroa
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Þ
É símbolo de realeza
Þ
A espada combatendo o mal e iluminando o homem em
busca da verdade
Þ
Intertextualidade com a lenda do rei Artur
A Cabeça do Grifo
O
INFANTE D. HENRIQUE Primeira parte – Brasão – O
Timbre
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de
noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo
e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo
em sua mão.
Þ
Impulso para o sonho/para o mar
Þ
Grifo – bico e asas de águia e corpo de leão
Þ
A cabeça – sonho, idealização, sabedoria
Þ
O senhor do mar e do mundo inteiro
Þ
A solidão propicia a idealização e a realização de
grandes feitos
Uma Asa do Grifo
D.
JOÃO O SEGUNDO Primeira parte – Brasão – O
Timbre
Braços cruzados, fita
além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue
o véu.
Þ
Preparação para a execução do sonho realizado
Þ
Impulso dado aos descobrimentos no reinado de D.
João II
Þ
Solidão como propiciadora de grandes feitos e
realizações
Þ
Dar a conhecer o que ainda está oculto
A Outra Asa do Grifo
AFONSO
DE ALBUQUERQUE Primeira parte – Brasão – O
Timbre
De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a
sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quer o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.
Þ
Execução, ação, concretização
Þ
A atitude heroica é importante para a aproximação
de Deus
Þ
Afonso de Albuquerque impos-se pela força, mas há
um reconhecimento do seu cansaço
Þ
O poder deve ser pela justiçae, lealdade, coragem,
respeito e não pela violência
Þ
Poder espiritual, moral, valores
HORIZONTE Segunda parte – Mar
Português II
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Esplendia sobre as naus
da iniciação.
Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta
linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos
merecidos da Verdade.
Þ
Necessidade de vencer o medo, ir mais além
Þ
Nau – segurança que permite realizer a travessia;
Árvore – renovação, vida em evolução; Praia – liberdade, horizontes mais
amplos; A ave – mundo divino; A fonte – origem da vida
Þ
Buscar a verdade nesses valores espiriturais
PADRÃO Segunda parte – Mar
Português III
O esforço é grande e o homem é
pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é
imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
Þ
Conseguiremos superar a antiguidade clássica
Þ O homem já
chegou onde podia, agora tem que ser com a ajuda de Deus
O MOSTRENGO Segunda parte – Mar
Português IV
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
Þ
Capacidade de superação de obstáculos.
Þ
O homem do leme representa um povo, um país.
EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS Segunda
parte – Mar Português V
Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo
no seu ombro.
Þ
Dobrou o Cabo da Boa Esperança
Þ
O mar é o mesmo, mas o mostrengo já não assusta
Þ
Atlas – castigado, carrega o mundo nos seus
ombros, os portugueses também têm que carregar o peso do conhecimento
OS COLOMBOS Segunda parte – Mar
Português VI
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
A América
As colónias – o Brasil, já independente, as outras colónias que iremos
perder
OCIDENTE Segunda parte – Mar
Português VII
Com duas mãos — o Acto e o Destino
—
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
Fosse a hora que haver ou a que
havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a
Ousadia
Da mão que desvendou.
Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o
conduziu.
Þ
Caminho marítimo para o Brasil
Þ
As duas mãos permitiram desvendar
Þ
Deus quis que os portugueses se lançassem na ação
das descobertas – nós desvendámos
FERNÃO DE MAGALHÃES Segunda
parte – Mar Português 8
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite
aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Þ Mantendo a alma ousada não deixaremos
morrer a vontade e a ambição (os Titãs festejam a morte de Fernão de Magalhães)
ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA Segunda
parte – Mar Português 9
Os Deuses da tormenta e os gigantes
da terra
Suspendem de repente o ódio da sua
guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os
véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos,
ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens
e clarões.
Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a
flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma
do Argonauta.
Þ Quando Vasco da
Gama morre, os deuses pasmam, o pastor gela e vê o céu abrir-se para receber o
herói
D. SEBASTIÃO
Terceira parte - O Encoberto - Os Símbolos
Esperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a
desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno
dura,
É Esse que
regressarei.
Þ O
mito fecundador da realidade
Þ Preparação para
a missão a cumprir
O DESEJADO Terceira parte - O
Encoberto - Os Símbolos
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te
sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com
pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Graal!
Þ
“Galaaz com pátria” – referência à Távola Redonda
e a quem foi dado o privilégio de conhecer o Santo Graal
Þ Símbolo da
verdade, da paz e felicidade de todos os povos
AS ILHAS AFORTUNADAS Terceira
parte - O Encoberto - Os Símbolos
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que
nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio
dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
Þ
A solidão e o mistério – o segredo à espera da
revelação
Þ
A presença só se capta no sono através de sinais
auditivos e pelo som das ondas
Þ Lugar do
não-tempo e do não-espaço – onde se encontra o desejado para fundar o V Império
O ENCOBERTO Terceira parte - O
Encoberto - Os Símbolos
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do
Encoberto.
Þ
Alusão - Rosa Cruz – organização de carácter
secreto, com ritos iniciáticos e práticas esotéricas, ensinam a necessidade da
busca do conhecimento e cooperação/fraternidade
Þ Aurora –
despertar; sol – origem da vida e do calor; Rosa – símbolo rosacruciano
O BANDARRA Terceira parte - O
Encoberto - Os Avisos
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português
mas Portugal.
Þ As trovas de
Bandarra anunciavam o regresso de D. Sebastião/ do messias e do V Império
ANTÓNIO VIEIRA Terceira
parte - O Encoberto - Os Avisos
O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto
Império
Doira as
margens do Tejo.
Þ
Profeta do V Império
Þ
Imperador da língua portuguesa
Þ
Pensador
Þ
“Madrugada irreal” – porque é feita a partir do
sonho
Terceira parte - O Encoberto - Os
Avisos
Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu
Sonho e meu Senhor?
Þ
Tristeza perante a situação do mundo
Þ
Crença no mito sebastianista ameniza a angústia do
poeta
Þ
Do desesperao à esperança - O sonho poderá
concretizar-se no futuro
Faz
a leitura ativa do poema apresentado da obra Mensagem de Fernando Pessoa
e destaca as ideias principais.
NOITE Terceira parte - O Encoberto - Os Tempos
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa
escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
*
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
*
Senhor, os dois irmãos do nosso
Nome
O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não
dá licença que partamos.
Þ
Perdeu-se o poder, perdeu-se o renome, a fama, mas não se perdeu o nome, a
essência do ser, aquilo que nos distingue dos outros
Þ
O que ficou – o nome – pode partir e reencontrar os outros dois – o poder e
a fama -, mas só com a autorização de Deus
TORMENTA Terceira parte - O Encoberto - Os Tempos
Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um
hausto
Brilha, e o
mar escuro estruge.
Þ
Na noite, o mistério adquire grandeza
Þ
Portugal jaz no abismo, mas há uma inquietação, um
desejar que o “soergue”
Þ
A situação de Portrugal – a tempestade que se
aproxima
Þ
A tormenta – a agitação de Portugal
CALMA Terceira parte - O Encoberto - Os Tempos
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
Þ
Apesar da tempestade atual, a calma há de voltar e
a viagem há de prosseguir – não em busca de novas terras, mas em direção ao
autoconhecimento e à sua realização como ser humano
ANTEMANHÃ Terceira parte - O Encoberto - Os Tempos
O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?»
E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar —
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora
Senhor do Mar.
Þ
Anúncio da manhã – princípio de qualquer coisa
nova
Þ
O que ainda é necessário fazer antes de despertar
Þ Oposição simbólica trevas-dia
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