quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Ideias-chave dos poemas de Mensagem não analisados em aula

O DOS CASTELOS - Primeira parte – Brasão – Os Campos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

Þ         A missão de Portugal é fitar o futuro e o mistério e ligar espiritualmente o ocidente e o oriente



O DAS QUINAS - Primeira parte – Brasão – Os Campos

Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!

Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:
Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu.

Þ   Para alcançar a glória é preciso sofrer e é mais fácil alcançá-la se nos desprendermos dos bens materiais


VIRIATO - Primeira parte – Brasão – Os Castelos

Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.

Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste —
Assim se Portugal formou.

Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.

Þ   Viriato – fundador da lusitânia – “luz que precede a madrugada” lusa – símbolo do heroismo, da valentia e da luta pela independência
Þ   É necessário criar as condições para que Portugal possa ressurgir


O CONDE D. HENRIQUE -- Primeira parte – Brasão – Os Castelos

Todo começo é involuntário.
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.

À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»

Ergueste-a, e fez-se.


Þ   É o fundador do condado portucalense
Þ   A iniciativa tem que partir de Deus, o herói executa a vontade



D. TAREJA - Primeira parte – Brasão – Os Castelos

As nações todas são mistérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios.
Vela por nós!

Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por ele reza!

Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.

Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria!

Þ   Início da primeira dinastia em Portugal.
Þ   A mãe de Portugal que continue a ser protetora
Þ   Portugal envelheceu, é preciso um Portugal novo
Þ   O futuro tem que ter em conta o presente e as lições do passado


D. AFONSO HENRIQUES

Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!

Þ   D. Afonso Henriques – o fundador do reino – o pai!
Þ   Representa a luta do passado e a construção na nação.
Þ   A vigília do presente é nossa – é atual.
Þ   É o exemplo de força e de coragem para construir uma nova nação.
Þ   A arma que combate o mal é a arma que constrói a paz.


D. FILIPA DE LENCASTRE - Primeira parte – Brasão – Os Castelos

Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?

Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Graal,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!

Þ   A mãe da ínclita geração


D. DUARTE
        REI DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas

Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.

Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.

Þ   5 personagens, 5 quinas, 5 chagas de Cristo
Þ   Consciência do destino das cinco personagens e de Portugal
Þ   D. Duarte reinou apenas 5 anos, reinado conturbado, receio de que as opções tomadas não fossem as melhores, a peste.
Þ   Homem de cultura - Saudade


D. FERNANDO
        INFANTE DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas

Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

Þ   Cativo dos mouros, humilhado e martirizado, aconselhou o irmão a não entregar Ceuta
Þ   A capacidade de suportar todos os tormentos em nome da Fé
Þ   Predestinação de D. Fernando


D. PEDRO
        REGENTE DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser —

Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!

Þ   O pensamento, o sentimento e a vontade
Þ   Homem que honra os seus compromissos, fiel às suas ideias – só assim construiremos o império espiritual


D. JOÃO
        INFANTE DE PORTUGAL Primeira parte – Brasão – As Quinas

Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
O todo, ou o seu nada.

Þ   Um povo é construído por homens que se destacam e por homens que se anulam para que outros possam brilhar – e todos têm um lugar neste mundo



 NUN’ÁLVARES PEREIRA Primeira parte – Brasão – Coroa

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

Þ   É símbolo de realeza
Þ   A espada combatendo o mal e iluminando o homem em busca da verdade
Þ   Intertextualidade com a lenda do rei Artur


 A Cabeça do Grifo

        O INFANTE D. HENRIQUE Primeira parte – Brasão – O Timbre

Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.


Þ   Impulso para o sonho/para o mar
Þ   Grifo – bico e asas de águia e corpo de leão
Þ   A cabeça – sonho, idealização, sabedoria
Þ   O senhor do mar e do mundo inteiro
Þ   A solidão propicia a idealização e a realização de grandes feitos


Uma Asa do Grifo

        D. JOÃO O SEGUNDO Primeira parte – Brasão – O Timbre

Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

Þ   Preparação para a execução do sonho realizado
Þ   Impulso dado aos descobrimentos no reinado de D. João II
Þ   Solidão como propiciadora de grandes feitos e realizações
Þ   Dar a conhecer o que ainda está oculto


A Outra Asa do Grifo

        AFONSO DE ALBUQUERQUE Primeira parte – Brasão – O Timbre

De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quer o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.


Þ   Execução, ação, concretização
Þ   A atitude heroica é importante para a aproximação de Deus
Þ   Afonso de Albuquerque impos-se pela força, mas há um reconhecimento do seu cansaço
Þ   O poder deve ser pela justiçae, lealdade, coragem, respeito e não pela violência
Þ   Poder espiritual, moral, valores



HORIZONTE Segunda parte – Mar Português II

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Esplendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.

Þ   Necessidade de vencer o medo, ir mais além
Þ   Nau – segurança que permite realizer a travessia; Árvore – renovação, vida em evolução; Praia – liberdade, horizontes mais amplos; A ave – mundo divino; A fonte – origem da vida
Þ   Buscar a verdade nesses valores espiriturais


PADRÃO Segunda parte – Mar Português III

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Þ   Conseguiremos superar a antiguidade clássica
Þ   O homem já chegou onde podia, agora tem que ser com a ajuda de Deus


O MOSTRENGO Segunda parte – Mar Português IV

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,

«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,

Þ   Capacidade de superação de obstáculos.
Þ   O homem do leme representa um povo, um país.


EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS Segunda parte – Mar Português V

Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.


Þ   Dobrou o Cabo da Boa Esperança
Þ   O mar é o mesmo, mas o mostrengo já não assusta
Þ   Atlas – castigado, carrega o mundo nos seus ombros, os portugueses também têm que carregar o peso do conhecimento


OS COLOMBOS Segunda parte – Mar Português VI

Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

A América
As colónias – o Brasil, já independente, as outras colónias que iremos perder


OCIDENTE Segunda parte – Mar Português VII

Com duas mãos — o Acto e o Destino —
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.

Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.

Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.

Þ   Caminho marítimo para o Brasil
Þ   As duas mãos permitiram desvendar
Þ   Deus quis que os portugueses se lançassem na ação das descobertas – nós desvendámos



FERNÃO DE MAGALHÃES Segunda parte – Mar Português 8

No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Þ   Mantendo a alma ousada não deixaremos morrer a vontade e a ambição (os Titãs festejam a morte de Fernão de Magalhães)


ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA Segunda parte – Mar Português 9

Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.

Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.

Þ   Quando Vasco da Gama morre, os deuses pasmam, o pastor gela e vê o céu abrir-se para receber o herói



D. SEBASTIÃO  Terceira parte - O Encoberto - Os Símbolos

Esperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

Þ   O mito fecundador da realidade
Þ   Preparação para a missão a cumprir



O DESEJADO Terceira parte - O Encoberto - Os Símbolos

Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Graal!
Þ   “Galaaz com pátria” – referência à Távola Redonda e a quem foi dado o privilégio de conhecer o Santo Graal
Þ   Símbolo da verdade, da paz e felicidade de todos os povos



AS ILHAS AFORTUNADAS Terceira parte - O Encoberto - Os Símbolos

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.

Þ   A solidão e o mistério – o segredo à espera da revelação
Þ   A presença só se capta no sono através de sinais auditivos e pelo som das ondas
Þ   Lugar do não-tempo e do não-espaço – onde se encontra o desejado para fundar o V Império
 O ENCOBERTO Terceira parte - O Encoberto - Os Símbolos

Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.

Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.

Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

Þ   Alusão - Rosa Cruz – organização de carácter secreto, com ritos iniciáticos e práticas esotéricas, ensinam a necessidade da busca do conhecimento e cooperação/fraternidade
Þ   Aurora – despertar; sol – origem da vida e do calor; Rosa – símbolo rosacruciano



O BANDARRA Terceira parte - O Encoberto - Os Avisos

Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português mas Portugal.

Þ   As trovas de Bandarra anunciavam o regresso de D. Sebastião/ do messias e do V Império



 ANTÓNIO VIEIRA Terceira parte  - O Encoberto - Os Avisos

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

Þ   Profeta do V Império
Þ   Imperador da língua portuguesa
Þ   Pensador
Þ   “Madrugada irreal” – porque é feita a partir do sonho


Terceira parte  - O Encoberto - Os Avisos
Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

Þ   Tristeza perante a situação do mundo
Þ   Crença no mito sebastianista ameniza a angústia do poeta
Þ   Do desesperao à esperança - O sonho poderá concretizar-se no futuro



Faz a leitura ativa do poema apresentado da obra Mensagem de Fernando Pessoa e destaca as ideias principais.

NOITE Terceira parte  - O Encoberto - Os Tempos

A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.

                                *

Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.

                                *

Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.

Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.

Mas Deus não dá licença que partamos.

Þ   Perdeu-se o poder, perdeu-se o renome, a fama, mas não se perdeu o nome, a essência do ser, aquilo que nos distingue dos outros
Þ    O que ficou – o nome – pode partir e reencontrar os outros dois – o poder e a fama -, mas só com a autorização de Deus


TORMENTA Terceira parte  - O Encoberto - Os Tempos

Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.

Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar escuro estruge.

Þ   Na noite, o mistério adquire grandeza
Þ   Portugal jaz no abismo, mas há uma inquietação, um desejar que o “soergue”
Þ   A situação de Portrugal – a tempestade que se aproxima
Þ   A tormenta – a agitação de Portugal


CALMA Terceira parte  - O Encoberto - Os Tempos

Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?

Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?

Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
Þ   Apesar da tempestade atual, a calma há de voltar e a viagem há de prosseguir – não em busca de novas terras, mas em direção ao autoconhecimento e à sua realização como ser humano


ANTEMANHÃ Terceira parte  - O Encoberto - Os Tempos

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?»

E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar —
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Þ   Anúncio da manhã – princípio de qualquer coisa nova
Þ   O que ainda é necessário fazer antes de despertar

Þ   Oposição simbólica trevas-dia

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