Álvaro de Campos
· Poeta
sensacionista e escandaloso;
· Homem
da indústria e da técnica;
· Histerismo,
euforia, carga dinâmica, torrente nervosa;
· Megalómano
e intervencionista;
· “Quanto
mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas/Quanto mais
personalidade eu tiver.../Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for...”;
· «Filho
indisciplinado da sensação» (segundo Ricardo Reis);
· 3
fases: fase decadentista; fase do futurismo whitmaniano; fase
independente/niilista/pessimista;
· Fase
decadentista:
· Poema
“Opiário” - viagem ao Oriente; dedicado a Mário de Sá-Carneiro;
· “Opiário”
- ponto máximo de destruição da personalidade do sujeito;
· Sentimento
decadente de tédio e enjoo da vida levado até ao limite, destruído
interiormente;
· Imitação
de Sá-Carneiro “desde a nostalgia do além, a morbidez snob de um saturado da
civilização, a embriaguez do ópio e dos sonhos dum Oriente que não há, o horror
à vida, o realismo satírico de certas notações, até ao vocabulário entre
preciso e vulgar, até às imagens, aos símbolos, ao estilo confessional, brusco,
animado e divagativo, até ao ritmo dos decassílabos agrupados em
quadras”(Jacinto Prado Coelho);
· Fatalismo
cego e evasão através do ópio e da morfina – não sabe como reagir de outro
modo;
· Marginaliza-se
e não encontra no mundo nada que lhe interesse;
· Resta-lhe
“fumar a vida”, ou seja, desejar a morte, já que a vida não passa de uma
realidade para transformar em nada.
· Fase
do futurismo whitmaniano:
· Influência
de Whitman;
· Idealização
poética industrial;
· Novo
homem - homem sem moral e sem sensibilidade, homem a dominar o mundo com as
mãos agarradas ao automóvel, ao paquete, ao avião, à máquina – o super-homem
industrializado.
· Dominado
pelo dinâmico e pelo forte;
· Poema
“Ode Triunfal”:
· Celebração
das rodas, engrenagens, correias de transmissão, êmbolos, ou seja, a máquina no
seu todo, a sua força e a sua capacidade de transformar e impulsionar a
indústria, o comércio, os transportes, a agricultura.
· Desfile
simultaneamente glorificante e perplexo da técnica e do consumismo
civilizacional que o poeta ama e em que se despersonaliza;
· “Ah,
poder exprimir-me todo como um motor se exprime!/Ser completo como uma
máquina!.../Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,/Ó
couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes –/Possuo-vos como uma mulher
bela,/Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama/Que se
encontra casualmente e que se acha interessantíssima”;
· Presença
da máquina - contacto quase sensual, idêntico ao que os românticos
experimentavam frente à Natureza.
· Máquina
como um prolongamento do braço humano, força mágica com que o indivíduo
consegue ultrapassar as limitações da sua condição humana.
· Domínio
estético da energia e do movimento que caracterizam a paisagem urbana de uma
grande cidade.
· Glorificação
da técnica e esta integração sujeito-coisas, com o endeusamento da cidade, da
mecânica e da engenharia - principal conteúdo da “Ode Triunfal”;
· «Como
eu vos amo a todos, a todos, a todos,/Como eu vos amo de todas as maneiras, Com
os olhos e com os ouvidos e com o olfacto/E com o tacto (o que palpar-vos
representa para mim!)/E com a inteligência como uma antena que fazeis
vibrar!/Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!»;
· «Ah
não ser eu toda a gente e toda a parte!»
· Exposição
não só dos elogios à industrialização, mas também dos seus aspectos negativos;
· Adjetivação
antitética e paradoxal que lhe reveste a linguagem - “A maravilhosa beleza das
corrupções políticas/[...]e outro sol novo no Horizonte!”;
· Outros
temas: o amor a uma personalidade hipertrofiada; a solidariedade entre os
homens, desde o santo à prostituta e desde o salteador ao burguês; a força
hercúlea; a pirataria; a energia mecânica; o progresso técnico; tudo o que
contribui para dar ao homem uma nova dimensão e libertá-lo;
· Fase
independente/niilista/pessimista:
· Homem
destroçado, desfeito, abatido, desconsolado e descontente com tudo;
· Poeta
do cepticismo, da abulia perante o absurdo, da auto-análise, do cansaço e da
frustração, muito próximo de Pessoa ortónimo;
· Nítida
evolução;
· Fase
em que se revela um poeta bem mais humano do que nas fases anteriores;
· «Nada
me prende a nada»;
· «Acordei
para a mesma vida para que tinha adormecido»;
· «O
que há em mim é sobretudo cansaço».
· «Não
me venham com conclusões!/A única conclusão é morrer.»
· Gerais:
· Álvaro
de Campos como uma espécie de alter ego de Fernando Pessoa (segundo António
Tabucchi);
· Sensacionismo
irreverente;
· Intensa
atividade, sobretudo no período em que Fernando Pessoa se entregou mais
devotamente ao esoterismo;
· Ora
se desmancha em descargas impetuosas, torrenciais, em velocidade olímpica, ora
é arrastado pelo tédio da vida, fica a boiar de cansaço: “Eu, eu mesmo.../Eu,
cheio de todos os cansaços/Quantos o mundo pode dar.”;
· Alberto
Caeiro é o seu Mestre e Álvaro de Campos pergunta-lhe: “...porque é que
ensinaste a clareza da vista,/se não me podias ensinar a ter a alma com que a
ver clara?/Porque é que me chamaste para o alto dos montes/Se eu, criança das
cidades do vale, não sabia respirar?/.../Porque é que me acordaste para a
sensação e a nova alma,/Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a
minha?”;
· Ânsia
de sensações - constante evasão no tempo e no espaço;
· Necessidade
de se evadir no tempo e no espaço para corresponder à ânsia de superar as
limitações de uma vida pacífica, sentada, estática, regrada e revista – é
significativamente expressa nas quiméricas viagens e nos desejos desbordantes e
imaginados que pululam na “Ode Marítima”;
· Insatisfação
e extravasão de sensações - tedium vitae
– o tédio da vida – “O tédio que chega a constituir nossos ossos encharcou-me o
ser”, a sensação angustiosa do vazio: “Estou só, só como ninguém ainda
esteve,/oco dentro de mim, sem depois nem antes”, e a frustração “O que eu
queria ser, e nunca serei, estraga-me as ruas”;
· Binómio
sentir/pensar - “O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual...” que
lhe dá “A capacidade de pensar o que sinto, que me distingue do homem
vulgar/Mais do que ele se distingue do macaco”, embora diga “viver as coisas
pelo lado das sensações”;
· Binómio
tudo/nada reflete uma faceta do “eu” pessoano, o poeta dos extremos, insatisfeito,
fracassado nos seus anseios em que tudo irrealizado o marca com o vazio do nada
- “ Não sou nada./Nunca serei nada./.../À parte isso, tenho em mim todos os
sonhos do mundo” e ainda “Ter pensado o Tudo/É o ter chegado deliberadamente a
nada”;
· Passado
como um refúgio, uma vez que o presente é caracterizado pelo tédio e pelo
cansaço, evadindo-se no tempo a recordar vagamente “A pobre velha casa da minha
infância perdida!”. Também patente ao nível do espaço “Ah, seja como for, seja
por onde for, partir!/Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar,
ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta...”
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